É comum comunicarmos algo e concluirmos que a pessoa do outro lado não entendeu a mensagem. Isso pode ter relação com as diferentes formas de pensar devido à influência de tudo o que a pessoa viveu e influencia sua forma de pensar - a cultura. O conhecimento sobre as diferenças culturais tem grande relevância na comunicação internacional, porém sob aspecto clínico (semiótica psicanalítica) pode-se dizer que beneficiaria toda e qualquer comunicação interpessoal.
Rodrigo Solano
rsolano@thinkglobal.com.br
O termo “Cultural Intelligence” (Inteligência Cultural) foi cunhado pelo Professor de Psicologia e Ph.D norte-americano Christopher Earley e o Professor de Administração e Ph.D Soon Ang que mais tarde, após desenvolvimentos de outros autores teve maior relevância com David Livermore:
"Inteligência Cultural, ou CQ, é a “capacidade de funcionar efetivamente através das culturas nacionais, étnicas e organizacionais. Ao invés de esperar que você domine todas as normas das várias culturas existentes, a inteligência cultural ajuda você a desenvolver um repertório geral e uma perspectiva que resulta numa liderança mais eficaz."
Livermore usa o termo cultural intelligence quotient - CQ (Quociente de Inteligência Cultural - QC) para diferenciar sua abordagem de outras no mesmo tema, dando ênfase à medição da capacidade individual de lidar com as diferenças culturais. De maneira simples, a inteligência cultural abordada por Livermore contempla quatro dimensões:
Baseado na pesquisa do psicólogo norte-americano Milton Rokeach chamada de Rokeach Value Survey (RVS), Geert Hofstede e outros pesquisadores seguiram desenvolvendo comparações comportamentais em diversos países e aspectos. O resultado foi o postulado das seis dimensões por Hofstede sob a perspectiva da comunicação intercultural. Nele, as culturas nacionais referentes a países são mensuradas numa escala que varia de zero a cem nas seis dimensões que seguem:
A pontuação de cada país e a comparação com a cultura brasileira podem ser verificadas no website Hofstede Insights.
A teoria de Hofstede usada por Livermore já teve críticas entre as quais a de Brendan McSweene, Professor e Diretor do departamento de pesquisas em Contabilidade, Finanças e Administração da Universidade de Essex. Já no título de um artigo publicado, o modelo de Hofstede seria um "triunfo da fé e um erro de análise", com a indagação se "as nações teriam culturas". Além disto, teoria de Hostede foi muitas vezes questionada por ter sido baseada majoritariamente numa pesquisa realizada somente com funcionários da IBM.
Hoje sabemos que as culturas não são somente influenciadas pelas nacionalidades ou etnias. Não se pode dizer que duas pessoas de um mesmo país possuem o mesmo comportamento cultural. O ambiente social que influencia as pessoas é configurado por uma diversidade de aspectos que vão além da nacionalidade. Há diversas instâncias que interagem com a cultura como as plataformas virtuais, religiões, política e tribos (virtuais ou não) além de diversos outras, com seus próprios mecanismos de interação com o psiquismo das pessoas influenciando suas crenças, valores, comportamento e o que lhes é desejável em tudo que interpretam. Assim, para compreender o fenômeno e chegarmos à inteligência cultural, é importante o uso do estudo das significações e do psiquismo, o que faz a Semiótica Psicanalítica.
A boa comunicação entre pessoas de diferentes identidades culturais nos dias de hoje demanda uma compreensão de um universo dinâmico para a previsão dos comportamentos, do que é desejável e consequentemente do planejamento de uma comunicação intercultural de sucesso (fala, negociação, material promocional, marcas, relacionamento etc.) na nova configuração social influenciada pela mediatização de plataformas virtuais. E esse é um dos alicerces de nosso trabalho também abordados no livro "Sem fronteiras para o Sucesso".